Dados do autor
NomeMarcela Coelho de Souza
E-mail do autorEmail escondido; Javascript é necessário.
Sua instituiçãoUniversidade de Brasília UnB
Sua titulaçãoPós-Doutorado
País de origem do autorBrasil
Dados co-autor(es) [Máximo de 2 co-autores]
Proposta de Paper
Área Temática01. Antropology
Grupo TemáticoUn petit bout du chaos. Les anecdotes de terrain comme expériences de subversion
Títulocuriosidade e dissonância: isso não é uma pesquisa
Resumo

Em 2016, uma mulher khisêt-jê a quem eu tratava por "irmã", faleceu em Brasília, onde moro, em decorrência de um lupús pelo qual vinha sendo tratada faziam cerca de 3 anos. O tratamento a levara muitas vezes à cidade, e na maior parte delas se hospedava em minha casa, com o marido e o filho mais novo, às vezes outros parentes (geralmente a mãe ou a sogra, para ajudá-la com a criança). Éramos muito amigas. Não pude chegar a tempo para o enterro, mas uma semana depois, por ocasião do primeiro banho, que possibilita o relaxamento do luto dos parentes mais próximos, lá estávamos, na aldeia, minha filha e eu. Poucas horas depois de chegar, fui à casa de sua família — em cujo chão fora sepultada, próximo à porta dianteira. Depois de chorar com seus pais, irmãos e filhos, sua mãe pegou-me pela mão para conduzir-me a um compartimento no canto da casa. Quando compreendi do que se tratava — ela queria mostrar-me o contrafeitiço em preparação, destinado a identificar o causador da morte de sua filha, e a vingá-la — fiquei paralisada. Essa é uma prática que não é comumente exposta aos olhos curiosos de antropólogos. O convite é claro não foi dirigido a mim como antropóloga, mas não pude recebe-lo senão com um reflexo decorrente desta posição: recusei-me a ver o contrafeitiço, talvez, porque temi só conseguir observá-lo com uma curiosidade de antropóloga que dissoava duramente do pesar que me dominava — não sei hoje e não sabia então se eu não sentia essa curiosidade ou se não a podia suportar. Pensei por bastante tempo que não seria mais capaz de escrever etnograficamente sobre minhas experiências com os Khisêt-jê. Tenho ponderado, entretanto, que o gesto da mãe de minha amiga não faz mais do que, como tantos outros que lá me são feitos, me colocar diante de dissonâncias que constituem as "dimensões contingentes ou por vezes contraditórias" senão da vida social deles, certamente da vida social que levamos juntos (do meu ponto de vista, o experimento etnográfico).

Palavras-chave
Palavras-chave
  • experiência de campo
  • dissonância etnográfica
  • povo khisêt-jê