Resumo | A arquitetura moderna tem sido exaustivamente investigada, porém, a análise da resposta dos arquitetos modernos diante da morte é um aspecto ainda pouco estudado. O mesmo processo acontece na obra de Lina Bo Bardi, arquiteta nascida em Roma e que chega ao Brasil em 1946. A arquiteta participou ativamente da definição da cena arquitetônica paulista, e intensificou o movimento cultural e a paisagem soteropolitana, deixando tanto em São Paulo como em Salvador, um exemplar de arquitetura tumular.
O presente artigo está centrado no estudo inédito desses dois mausoléus projetados por Lina, construídos entre 1951 e 1964. O mausoléu paulista, projetado para a Família Robell, utiliza em sua composição mármores e granitos, e abriga um escudo circular em baixo-relevo com uma reprodução da Madonna della Sedia, de Raffaello Sanzio, de exatos 71 cm de diâmetro, como a pintura do mestre italiano. Em Salvador, Lina projetou um grande prisma retangular de concreto sobre os jazigos da família Odebrecht, onde o alemão, Irmão Paulo Lachenmayer, se encarregou de realizar a porta e o letreiro com o nome da família, e internamente o recinto recebeu imagens bíblicas, pintadas pelo argentino, Carybé.
Além de contribuir com a historiografia da arquiteta, documentar tais exemplares e ampliar os estudos sobre arquitetura tumular de tendência moderna, pretende-se desenvolver uma reflexão sobre os desígnios, as questões projetuais, iconográficas e simbólicas associadas a essas obras. Traçaremos paralelos e investigaremos o fio condutor de sua essência projetual oriunda da Itália e tensionada no Brasil, analisando de que modo esta perpassa os seus projetos de arquitetura tumular. Ao organizar as respostas de artistas modernos diante da arquitetura tumular, será possível refletir acerca da inserção desses projetos nas cidades dos mortos, tensionar o conceito da arte e arquitetura tumular como espaço de memória e enfretar o tema da morte tão negligenciado na história da arte e arquitetura.
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